Dia Internacional da Mulher! Dia de Comemoração! Dia de Luta!

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem. 
Somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” 
Simone de Beauvoir


Sônia Aparecida Lôbo

No dia 08 de março se comemora o Dia Internacional da Mulher. Portadoras de múltiplas identidades comemoramos nesse dia o dia da mulher-mãe que cuida e protege filhos, pais, maridos e amigos; o dia da mulher trabalhadora que provê; o dia da mulher que ri e se embeleza; o dia da mulher que defende seus direitos e seu lugar na sociedade ainda persistentemente machista.

A comemoração desse dia surgiu das lutas dos/as trabalhadores/as no final do século XIX quando as operárias ligadas ao movimento socialista, que vivenciavam condições extremamente precarizadas e desiguais de vida e trabalho, sugeriram a criação de um dia de luta das mulheres trabalhadoras para que tais condições pudessem ser denunciadas. Posteriormente, a grande tragédia ocorrida no dia 25 de março de 1911, quando 149 pessoas, a maioria mulheres, morreram no incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, durante uma greve por melhores salários, expôs ainda mais as condições desumanas às quais as trabalhadoras estavam submetidas e deu nova força ao movimento. Nos anos de 1970 a ONU instituiu o dia 08 de março como dia internacional das mulheres e hoje as reivindicações dizem respeito tanto à melhoria das condições de trabalho e igualdade de salários quanto pela igualdade de gênero em sentido amplo.
No decorrer do século XX o movimento de mulheres, principalmente no mundo ocidental, realizou importantes conquistas no campo da cidadania: o direito ao voto; a igualdade legal entre homens e mulheres no mercado de trabalho; a criminalização e repúdio da violência contra as mulheres; o seu reconhecimento como importante ator social em pé de igualdade com os homens. Por isso há o que comemorar!
Infelizmente, a persistência do machismo estrutural, da desigualdade social e de trabalho que se reflete no cotidiano feminino não se encontram no passado. Os dados, por exemplo, da violência contra a mulher no Brasil e no Mundo são vergonhosos. Em pesquisa realizada em 2019, o Data Folha indicou que 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil em 2018, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor, pois foi onde ocorreram 42% dos casos de violência. O assédio e a violência acontecem principalmente entre mulheres pobres e negras. A maior parte das mulheres que sofreram violência sexual conhecia seu agressor indicando que não há lugar seguro para as mulheres, nem no ambiente privado, nem no ambiente público. Aliada a essa violência explícita, o controle social do corpo da mulher, de suas escolhas estéticas e sexuais, da maternidade ou não maternidade é também um espaço privilegiado para o desenvolvimento do preconceito e opressão e um dos lugares fundantes do sexismo.
No mercado de trabalho as diferenças de salários entre profissionais de diferentes sexos ocupando a mesma função ainda é uma realidade para a maior parte das mulheres. Essas diferenças se apresentam tanto na ocupação de altos cargos em grandes empresas, como em tarefas relacionadas às trabalhadoras pobres, como por exemplo, na área da construção civil onde mulheres com qualificação e escolaridade maior que a dos homens são designadas para funções com menor remuneração.
Por isso o dia 08 de março é também dia de luta! Luta essa que deve ser partilhada por toda a sociedade. A libertação e igualdade entre homens e mulheres não é um problema apenas feminino. Diz respeito a todos, homens e mulheres que sonham e lutam por um mundo mais justo e igualitário. Nesse sentido, a libertação feminina de papeis e lugares historicamente determinados é também a libertação dos homens de seus lugares também determinados.
Construir a luta das mulheres é também compreendê-la como parte da luta da classe trabalhadora. A luta da mulher que trabalha, e que em muitas situações é a provedora da casa, é também a luta pela melhoria de vida da classe trabalhadora em seu caminho pela emancipação das formas de exploração e opressão. Emancipação feminina e emancipação dos trabalhadores são elementos de uma única luta no contexto do capitalismo histórico e contemporâneo. A não compreensão dessa questão impede o avanço dos direitos da maioria das mulheres, pertencentes à classe pobre trabalhadora, em detrimento de um pequeno grupo geralmente pertencente de classe média/alta.
Por último, há que se considerar que a luta das mulheres é também uma luta contra o racismo. Ninguém desconhece que mulheres negras, oriundas das classes mais pobres da sociedade, são também as mais vulneráveis. As que mais sofrem no cotidiano familiar, no trabalho e nas relações sociais de maneira genérica. Enfim, é necessário compreender que sexismo, racismo e lugar de classe são o tripé sobre o qual se assenta a opressão das mulheres e que determina a sua permanência em um lugar social inferiorizado.


Contra isso, lutemos nesse 8 de Março!